O tempo é um eterno fugitivo, por isso, a vida deve ser intensa e a intensidade de viver advém de valores benéficos a sua continuidade, pois o dia seguinte está por amadurecer e deverá ser vivido com a mesma intensidade de hoje. Tempus Fugit, Carpe Diem.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

SER CRÍTICO I – O CONCEITO


A crítica está na natureza humana, de tal sorte, que podemos afirmar: todos os humanos, potencialmente, são críticos. A potencialidade não significa dizer que a crítica possa ser exercida sem desejo, conhecimento e esforço; razão pela qual grande parte das pessoas não se interessam ou se alienam da vida social. O não interesse advém de outras prioridades, ou inseguranças e formam o ser chamado de “politicamente correto”. Existe apenas uma diferença entre o “politicamente correto” e o “crítico”. O politicamente correto opta em não saber criticar, desta forma, elogia a tudo e a todos e longe do “espetáculo”, do seu “palco de atuação”, manifesta perfunctoriamente assaques contra tudo e todos. O verdadeiro crítico é um racionalista que consegue pensar com os valores éticos e verificar o que há de verdade ou equívoco em qualquer tipo de situação da vida corriqueira.

Para muitos as atitudes e comentários devem ser sempre “politicamente corretas”, ou seja, revelar o mínimo do que realmente pensamos sobre determinado assunto ou fato. Em outras palavras, viver o personagem de acordo com o script do momento, ser o padrão que se espera encontrar na tipificação imposta pelo senso comum.

Não vou contestar tal pensamento, pois sei que é assim que funcionam as relações humanas e sociais. Vivemos um período de inversão de valores e os críticos não são prestigiados pelas sociedades, mas, largados a própria sorte. No dizer de “Zaratustra”, os “super-homens” são inimigos das sociedades, sejam políticas, econômicas, empresariais, religiosas, ou qualquer outra forma de interesse humano.

Mas o que é um crítico? Seria uma espécie de demônio que denuncia os equívocos dos inerrantes sábios das sociedades? Ou seria um espírito de menino levado que grita diante das sociedades que seus líderes estão nus? Ou, então, anjos que combatem os valores terrenos em prol das virtudes metafísicas? Existiriam críticos do bem, ou todos são do mal? Ou, ainda, seriam os críticos improdutivos?

Um crítico é alguém atuante e sensível às reflexões relevantes, pensa sempre o melhor para sua empresa ou para a sociedade em que vive. É comprometido com a verdade e a busca incessante e de forma incansável.  Tem plena consciência do possível, mas não se deixa enrolar pelas falácias dos “espertos” que usam de todos os meios para convencer a outros de seus interesses, muitas vezes ocultos em atos generosos.

O crítico jamais fala mal de quem quer que seja, bem como não é um assacador das instituições da sociedade. Ele fala sobre as verdades fundadas nos saberes e nos processos éticos valorosos que norteiam sua razão. Ele não é um pessimista e muito menos alguém comprometido em apontar defeito em tudo e todos, ao contrário, como já foi dito, seu compromisso é com a verdade, bem como conhecer os limites do possível.

A crítica é que distingue os seres humanos dos demais animais, pois criticar é o ato de pensar, é o exercício da razão é o homem em sua plenitude. Apenas para lembrarmos, já no Século XVIII Immanuel Kant marca a história do conhecimento humano com seu livro “A Crítica da Razão Pura”.

SER CRÍTICO II – A DEFINIÇÃO


Criticar não é ter opinião adversa de alguém ou da maioria, mas um exercício da razão, fundada em valores éticos preestabelecidos, que busca conhecer o máximo de verdade diante de qualquer tipo de manifestação ou fenômeno. Criticar é racionalizar, raciocinar sobre um tipo de conhecimento.

Algumas profissões estão diretamente ligadas à capacidade crítica de seus profissionais, vejam, por exemplo, o Mestre Cervejeiro e o Enólogo, ainda podemos falar nos degustadores de café e muitos outros. A memória olfativa é uma atividade da razão e, ao mesmo tempo, um princípio ético, pois atribui valorações diferenciadas em função do público para o qual se dirige o produto.

Tomemos como exemplo o enólogo; a mesma parreira produz uvas com muitas variações aromáticas e de açúcares de um ano para o outro. Logo, a cada ano, o enólogo se deparará com características diferentes no produto final, portanto, sua missão é avaliar criticamente a verdade do produto e decidir o padrão e as alternativas viáveis: engarrafar com a rotulagem normal, levar o produto a uma feira ou concurso, misturar com outra safra da mesma uva, utilizar em produtos misturados (o mercado usa as terminologias corte ou seleções), ou usar outra rotulagem. As opções são do crítico a decisão é comercial, do gestor da vinícola.

Outro exemplo vem dos experimentos de novas espécies de frutos, solos, climas. Vejam o Vale do São Francisco, em pleno sertão nordestino, é capaz de produzir uvas que colocaram os nossos vinhos espumantes entre os melhores do mundo. Isso só foi possível em razão do trabalho de críticos, que desenvolveram toda uma estrutura de pensamentos utilizando todos os saberes tecnológicos da época.

Percebe-se de plano, que qualquer empreendedor sério possui um aguçado senso crítico, sem o qual, o fracasso é inevitável. De modo geral, esse é o motivo pelo grande número de pequenas empresas não sobreviverem aos dois primeiros anos de mercado. Também é muito frágil o momento de uma média empresa alçar ser uma grande empresa, o empreendedor, que tinha um espaço complementar em seu segmento de mercado, passa a disputar diretamente com grandes corporações. É necessário uma ampla avaliação crítica despojada de qualquer tipo de vaidade ou sonho, para pretender se manter vivo no mercado.

Pelo exposto, deve-se descartar do termo crítico o pessimismo, a reclamação e, especialmente, a rabugice. Quem vive achando que tudo vai dar errado, que sempre enxerga um defeito ou falha em qualquer coisa, ou que vive reclamando de tudo e todos, não tem nenhum senso crítico, ao contrário tem problemas psicológicos ou psiquiátricos.

Concluindo, ser crítico é inteiramente compatível com qualquer atividade humana, ou ainda, seria desejável que todas as atividades humanas passassem por um processo crítico. A nossa esperança não pode ser somente um sonho de ideias brilhantes, mas uma força vital da razão que nos impulsiona a trabalhar em favor de nosso futuro e do nosso próximo, dia após dia.

SER CRÍTICO III – AS BOAS PRÁTICAS


Falar de boas praticas no ambiente da crítica é uma tarefa muito complexa. A crítica se vale da hermenêutica e da exegese dos fatos e ações dos seres humanos nas diversas áreas da atuação dos mesmos.

Se sou um político, deverei tomar cuidado com as vantagens e facilidades que outros me ofereçam, tanto colegas de função pública, quanto indivíduos ou empresas da iniciativa privada, é a famosa cilada. Da mesma forma, devo cuidar das ações ofensivas, ou seja, as propostas e apoios a projetos de lei ou coisa semelhante, a reputação de um político pode ser depreciada intramuros ou publicamente. É mais fácil recompor a imagem maculada somente em público, do que entre os pares. E, finalmente, não podemos esquecer-nos, ou seja, das nossas limitações ou do ponto de equilíbrio emocional. Nunca somos a maravilha que pensamos ser, muito menos sabemos usar os conhecimentos que adquirimos como supomos saber. Somos o nosso maior adversário se formos previsíveis aos outros, mas imprevisíveis a nós mesmos.

Se olharmos criticamente para o parágrafo acima, podemos verificar uma espécie de regra geral, aplicável em qualquer grupo social de trabalho ou não. Como crítico, não creio em regras e mandamentos, esquemas ou similares que possam ajudar a qualquer pessoa a ter boas práticas de convivência e sucesso. Existe um grande mercado de autoajuda, mas não tenho interesse por condicionar seres humanos em gaiolas, sou um treinador de homens que desejam voar, que não sabem viver engaiolados.

A regra geral é principiológica, por tanto, precisa ser pensada criticamente sempre e diante de qualquer fato ou ação, mesmo que sejam iguais a muitos outros já vivenciados. A água de um rio nunca é a mesma.

SER CRÍTICO IV – OS TEMORES DO MERCADO



Como já registramos, os críticos são produtivos, muitos deles formam o conjunto de empresários empreendedores, são participativos e idealistas. Fica a pergunta: por que as empresas não gostam de críticos em seus quadros funcionais? De modo geral existem duas motivações clássicas, a blindagem das capacitações dos executivos chefes ou a vaidade dos mesmos.
 
Cristalizou-se nos mercados que os chefes são os que sabem mais, por tanto, eles não gostam de serem contraditos por subalternos, eles se sentem humilhados e temem perderem o cargo. Já a vaidade é uma velha companheira da humanidade e o crítico que aponta um procedimento melhor do que o sugerido pelos chefes fere-os o ego de morte. Seres insuportáveis esses críticos!
 
Existe, ainda, um terceiro motivo muito comum, muito antigo, mas trazido à luz juntamente com a revolução industrial. É a domesticação dos seres humanos que são úteis apenas para a execução de tarefas preestabelecidas e muito rotineiras. Na linha de montagem, no chão de fábrica, não existe lugar para pensadores. É a chamada classe operária, que não tem liberdade nem para transitar no ambiente da indústria. Saltam dos ônibus e caminham sempre pelo mesmo lugar até aos postos de trabalho, ao olhar atento dos seguranças. Não são humanos, são mão de obra, necessários em razão da incompetência tecnológica dos fabricantes de maquinários pesados.
 
Vamos agora, abordar uma diretoria de primeiro time de uma boa empresa. Uma vez por ano eles se reúnem de forma isolada para fazer o planejamento estratégico. Quando dão por terminados os trabalhos, os “papeis” onde foi registrado o planejamento, toma ares de pergaminhos. Dia-a-dia ganham uma sacralidade indubitável e todos são cobrados pelos resultados e pela implantação das estratégias contidas no sacro planejamento anual. Qualquer crítico perguntará sobre a metodologia utilizada e pelo conhecimento de utilização das mesmas, bem como, sobre o conhecimento das tendências das praças ou regiões a serem trabalhados, a qualificação humana para o esforço de metas e outras tantas questões que empresas brasileiras não fazem.
 
Outra questão interessante: Por que a contratação de jovens ao invés de pessoas mais experientes, assim como eu, por exemplo? Antigamente falava-se sobre o tempo de produtividade na empresa, sendo desvantagem contratar um profissional prestes a se aposentar. As notícias falam que o tempo médio de empregabilidade no Vale do Silício e de oito meses. O tempo médio de duração de um contrato para um CEO, nos dias atuais, é de dois anos. Qualquer pessoa que veja currículos vai perceber uma drástica redução no tempo médio de relação de emprego. Mas continuam preferindo os jovens, por questões diversas: salários menores, maior facilidade de manobra, assinam qualquer coisa no dia seguinte a uma balada e por aí vai.
 
Ainda sobre o parágrafo acima, quem vai trabalhar, sabendo não haver vínculos de permanência e assumir os riscos de não atingir os objetivos acordados na contratação. Percebe-se um grande número de fraudes de dirigentes em todos os setores da economia. A bolha do mercado americano em 2008, que causa reflexos ainda hoje, foi fruto de uma mega especulação que deixou investidores com papel podre nas mãos. Mas os executivos, mesmo de empresas tecnicamente falidas e socorridas pelos Estados, cumpriram as metas e receberam seus bônus.
 
Será que os empreendedores temem fazer parte de histórias como estas?
 
Quando me manifesto contrário ao liberalismo econômico e suas variáveis é em função da análise dos resultados globais e, fundamentalmente, pelo padrão ético que norteia a crítica liberal: é a ética do movimento, do curto prazo, do bom, ainda que esse conceito de bom, possa causar um desastre mais à frente. Ao criticar, não me torno socialista e nem deixo de acreditar no capitalismo, que em uma frase do Ex-Ministro Delfin Neto, ninguém o inventou. O capitalismo surgiu como uma natural consequência das transações comerciais.
 
Não pretendo escrever sequer um opúsculo sobre o tema, desejo apenas ensejar que meuá amigos façam uma reflexão sobre tema tão relevante, que faz a diferença entre uma corporação dinâmica, produtiva e cumpridora de suas obrigações sociais e uma fantasiosa corporação que nada tem além de papéis e gráficos.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

AINDA SOBRE SACOLAS E SACOLINHAS


Sou defensor contumaz da preservação da natureza como princípio fundante do direito da vida e da dignidade humana. Os seres humanos são por natureza extrativistas, não comemos, nem bebemos e não respiramos sem que a natureza nos forneça os elementos essenciais à vida. Com o desenvolvimento do conhecimento e a proliferação da espécie humana criamos o cultivo e as diversas indústrias, que são grandes processadoras de elementos encontrados ou cultivados na natureza.

Embora o assunto seja específico, ou seja, em relação às sacolas plásticas de mercado, defendo uma hermenêutica mais ampla, qual seja: os movimentos políticos e econômicos nos fazem de bobos e nos geram ônus financeiro e dispêndio de tempo com campanhas estapafúrdias que em nada ajudam a melhorar a consciência da população e, muito menos, contribuir para a recuperação da natureza ou do ecossistema.  “A Prefeitura convoca as crianças para plantar mudas de árvore”, “façamos a caminhada pela natureza”, “grande expedição pela Mata Atlântica”. Agora é a vez das sacolas plásticas e o cidadão será obrigado a dar o seu jeito ou se valer do jeito proposto, que é comprar uma sacola retornável.

Não tenho dúvidas que cada cidadão deve se sacrificar para a recuperação da natureza, não podemos viver sem água, ar e alimento. Porém, propus uma reflexão mais ampla e vou sustentá-la outra vez. Por mais falta de consciência ou, até mesmo, de pudores, dos cidadãos, a capacidade de destruição do ecossistema é mínima, comparada com as atividades econômicas e políticas. As atividades econômicas geram empregos e riquezas para o país e a atividade política gera tributação sem a correspondente prestação de serviços. Se exigida, a atividade econômica reduz os processos destruidores do ambiente a níveis aceitáveis, ou perto de zero, se estimulada, as atividades econômicas desenvolvem projetos de recuperação e preservação do ecossistema. E a atividade política faz o que? Além de tributar as atividades econômicas e os cidadãos de forma direta e indireta, retiram do erário público os recurso para o financiamento dos Partidos Políticos e suas campanhas a cargos públicos, bem como para o enriquecimento pessoal.

Então eu não quero fazer mais sacrifícios enquanto não houver uma mobilização da sociedade contra a ociosidade política e a patifaria dos políticos brasileiros. Existe dinheiro para a implantação de usinas de transformação do lixo, bem como da implantação da coleta seletiva. Vejam o escândalo envolvendo o Carlinhos Cachoeira; é sobre coleta de lixo!

O lixo, em geral, é matéria prima para o desenvolvimento econômico, mas custa caro a implantação de uma boa infraestrutura e não rende votos, pois depois de implementado todos os processos, é como o cano de água, esgoto e gás, que correm no subsolo e ninguém sabe mais que político promoveu a obra. Político experiente constrói viadutos e colocam enormes placas para que a população não esqueça seu nome.

É do meu tempo de juventude levar as sacolas para feiras-livres e mercados, ainda não havia os supermercados, refrigerantes e cervejas eram vendidas em garrafas de vidro retornáveis e os chamados “cascos de bebidas” eram pagos. Foi uma boa época!

Não posso apoiar a destruição do nosso planeta, por isso, aproveito o desconforto causado pelo cinismo do poder público em retirar as sacolinhas plásticas e alertar aos amigos que isso e nada é a mesma coisa, se não exigirmos pelos meios legais, que os nossos representantes políticos não nos desonrem e nem nos façam de tolos, ou no dizer de Nietzsche, de rebanhos.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

SOBRE SACOLAS E SACOLINHAS: UMA MUDANÇA NOS HÁBITOS DOS CONSUMIDORES


Os tempos atuais requerem dos estudiosos e pensadores uma visão multidisciplinar em face da complexidade existencial das sociedades e de seus valores postos sobre o paradigma dos capitais, desassociados de qualquer compromisso produtivo. Bauman (Zygmunt Bauman (1995), A Vida Fragmentada, Ensaios sobre a Moral Pós-Moderna, Relógio d’Água, pp. 41. Publicada por AMCD em Segunda-feira, Março 29, 2010. Etiquetas: Bauman, Citações, Filosofia, Sociologia. http://trabalhosedias.blogspot.com/search/label/Bauman em 18/02/11) assim escreve:


O ROLO COMPRESSOR DO «DESENVOLVIMENTO» CAPITALISTA

“As vítimas do «desenvolvimento» - o verdadeiro rolo compressor de Giddens, que esmaga tudo e todos os que encontre no seu caminho - «evitadas pelo sector avançado e cortadas dos antigos usos...são seres expatriados nos seus próprios países». Por toda a parte por onde o rolo compressor passa, o saber-fazer desaparece, para ser substituído pela escassez de competências; surge o mercado de trabalho mercadoria onde outrora os homens e mulheres viviam; a tradição torna-se um lastro pesado e um fardo dispendioso; as utilidades comuns transformam-se em recursos subaproveitados, a sabedoria em preconceito, os sábios em portadores de superstições.”

“E não é só que o rolo compressor não se mova apenas por sua própria iniciativa, mas com o apoio e reforço pelas turbas das suas futuras vítimas ávidas de serem esmagadas (ainda que, nalguns casos, o rolo aja por si só, sentimo-nos muitas vezes tentados a falar, mais do que de um rolo compressor, de um Moloch - essa divindade de pedra com uma pira acesa no ventre, em cujo interior as vítimas autodesignadas se precipitam com regozijo, entre cantos e danças); é, além disso, depois de começar a funcionar, empurrado pelas costas, sub-reptícia, mas incessantemente, por multidões incontáveis de especialistas, de engenheiros, de empresários, de negociantes de sementes, fertilizadores e pesticidas, ferramentas e motores, de cientistas dos institutos de investigação e também de políticos, tanto indígenas como cosmopolitas, que buscam, todos eles, o prestígio e a glória. É deste modo que o rolo compressor parece imparável, ao mesmo tempo que a impressão de ser impossível pará-lo o torna ainda mais insuportável. Parece não haver maneira possível de escapar a este «desenvolvimento», «naturalizado» sob a forma de qualquer coisa que se assemelha muito a uma «lei da natureza» pela parte moderna do globo, desesperadamente em busca de novos fornecimentos do sangue virgem do qual necessita para se manter vivo e em forma. Mas o que é que este «desenvolvimento» desenvolve?”


Bauman é o autor da teoria da liquefação dos valores sociais como consequência da globalização. O rolo compressor, posto como um Moloch faz todo o sentido quando se verifica a ausência de valores e a superficialidade com que as sociedades aceitam sobreviver. Com toda a vênia, ouso discordar de Bauman quando ele associa o rolo compressor ao capitalismo, tenho a convicção de que o capitalismo não é a mesma coisa do liberalismo e muito menos do neoliberalismo.

Ao iniciar o artigo com este magnífico texto de Bauman, pretendo chamar a atenção para a necessidade de questionar criticamente (de forma ética), não só as ações privadas, mas, em especial, as ações políticas do Poder Público.

O canal de televisão Futura faz uma chamada muito interessante: “O mundo é feito de perguntas e não de respostas.” Nesta pequena frase está resumidamente todo o conceito que Bauman define como “rolo compressor do desenvolvimento” e a perda das capacitações éticas, ou críticas, alienantes da sociedade.

Nietzsche, em seu livro Além do Bem e do Mal, aforismo 64, página 76; escreve: ““A ciência pela ciência” é a última cilada que nos arma a moral — e é precisamente essa que envolve a todos inextrincavelmente em sua rede”. É, na verdade, uma crítica ao racionalismo kantiano enquanto instrumento da verdade, bem como ao empirismo fundado na coisa dada e apreensão dos fatos.

SOBRE SACOLAS E SACOLINHAS

No Brasil, predomina o populismo político, que não é outra coisa, se não, a política das esmolas rotas que obstruem a visão de uma classe ociosa, na concepção de Thorstein Veblen, a qual vive por se autolocupletarem à custa do erário público adquirido na forma de tributos. Assim funciona o Poder Público no Brasil.

Escolas, creches, viadutos, obras de infraestrutura, hidrelétricas, obras nunca faltaram. Nos grandes centros urbanos não é difícil encontrar uma escola ou um centro médico. Mas funcionam? Podemos dizer que temos um razoável serviço público em alguma área da competência do Estado? Acreditamos nos estudos de impacto ambiental que foram realizados para a liberação da construção da Hidrelétrica de Belo Monte? Ou da construção da ferrovia que devastará os manguezais baianos?

Quem sabe as verdadeiras intenções da guerra contra as sacolinhas de mercado? Se considerarmos que não foi divulgado nenhum projeto de mudança nas embalagens e rotulagens de produtos industrializados, como também, nenhuma mudança no material que embala os produtos hortifrúti, dentro das poderosas sacolas biodegradáveis serão transportados quilos de plásticos que irão para os lixões. Mas é o começo! É um passo Importante! Para quem e para o que? Quem já tem consciência da preservação do meio ambiente, para nada serviu. Quem não tem tal consciência, não é parvo, é apenas uma pessoa neoliberal egocêntrico (pensa no bom para ele), portanto, sabe que está transportando todo o tipo de plástico para sua casa, apenas passou a pagar pela sacola.

Esta discussão, em ano eleitoral, oportuna levantar temas inquietantes, tais como: o rolo compressor desenvolvimentista de Bauman (o Moloch do senso comum), da descrença de Nietzsche das coisas por elas mesmas, que o Poder Público funciona como uma classe ociosa arrecadadora de tributos na concepção vebleniana e nós vivemos o senso comum, perdemos a nossa capacidade de visão crítica.

Finalizo com mais um aforismo de Nietzsche: “A atração exercida pelo conhecimento seria bastante fraca, se para atingi-lo não fosse preciso vencer tantos pudores.”

sexta-feira, 6 de abril de 2012

O PRINCÍPIO DA BOA FÉ

A irresponsabilidade e a credulidade do brasileiro são doenças sociais, razão pela qual o Princípio da Boa Fé, só deveria ser aplicado após um processo à parte e concomitante com a ação principal. Boa fé se dá em questões que não se pode avaliar tecnicamente, o resto é desleixo, preguiça e barateamento de despesas.