O tempo é um eterno fugitivo, por isso, a vida deve ser intensa e a intensidade de viver advém de valores benéficos a sua continuidade, pois o dia seguinte está por amadurecer e deverá ser vivido com a mesma intensidade de hoje. Tempus Fugit, Carpe Diem.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

NEURAS GOVERNAMENTAIS


Publicado no OESP – ON-LINE, em 15.02.2012
Autor: José Jorge Ribeiro da Silva; jjribeiros@yahoo.com.br; Campinas, SP


A mágoa e a raiva mal disfarçada que possamos sentir pelo nosso próprio país, podem se tornar elementos norteadores das políticas que adotamos em determinados momentos. Contar com o patriotismo dos palanques eleitorais parece mera retórica e pirotecnia linguística, quando vemos o bom coração do/da governante ceder sempre em favor dos "de fora" em detrimento dos "de dentro". Assim foi com os bolivianos que herdaram refinaria montada pela Petrobrás e paga com dinheiro dos brasileiros; o compartilhar de investimentos em Cuba deixando nossos portos a ver navios, literalmente. Jamais me oporia apoiar quaisquer medidas benéficas em países depauperados por seus ladinos governantes, caso visse o melhor exemplo de empreendimento funcionando primeiramente em minha casa. Projetar a imagem de excelente governante(anta) aos de fora, sem antes fazer o dever de casa, pode soar uma vingança subliminar ao país que agora vai pagar pelo que fez a minha pessoa e aos meus "cumpanheros" em outra épocas. Humilhações e sofrimentos que nos são impostos em idade que não nos permite discernir claramente de qual lado habita o mal (político ou social) podem nos tornar cínicos e discretamente vingativos aos nossos compatriotas, ainda que disfarçados de pessoas de bem, altruístas e amantes do próximo, em nossas decisões governamentais. O divã bem que poderia ser aplicado, sem neuras!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

CÁLICE: MUITO MAIS ATUAL DO QUE NUNCA!


Costumamos definir significados e passar a compreender a vida através deles. O sol é alegria, a chuva é melancolia e por aí vai. Mas os significados são diferentes de pessoa para pessoa, pela simples razão de que são as pessoas que atribuem significação as coisas, fatos, valores, indivíduos, paisagens e toda a sorte de formas.

Curiosamente, costumamos pensar dialeticamente até formarmos o conceito significante. Após definido, os significados se cristalizam em dogmas e não há mais no que pensar. É necessária uma grande tragédia para des-dogmatizar um significado; tomamos como um exemplo uma doença de morte para modificar o significado do dinheiro, ou o desemprego para mudar o significado da empresa, ou, até mesmo, da empregabilidade.

Nos anos em que a América Latina vivia sob o Regime Político de Exceção, em que os países eram governados por militares de extrema direita, fruto de Golpe de Estado, quando foram suprimidos da população os Direitos e Garantias Individuais e Coletivas, um grande número de pessoas, naturalmente crianças, interessados ou parvos, atribuíram a ditadura implantada o significado protetivo do comunismo. O povo temia o comunismo por medo de perda da liberdade e pelo ateísmo doutrinário. Foi necessário que o regime soviético apodrece-se, fazendo milhares de vítimas dentro e fora dos seus territórios para que o povo entende-se que o marxismo é apenas uma teoria sem nenhuma ciência, como agora presenciamos a falência do liberalismo, igualmente teórico e desprovido de qualquer embasamento científico.

Mas as pessoas demoram a se desfazer dos dogmas. Somente o sofrimento extremo pode despertar um cérebro dogmatizado. “Eu posso competir em condições de igualdade”... nem o nossos rostos são iguais, sempre existe uma diferença entre o lado direito e esquerdo. Então eu pergunto: por que o culto ao liberalismo? Será uma infinita solidariedade ao Deutsche Bank, que, propositadamente, emprestou ao Governo Grego muito mais do que o a Grécia tinha possibilidade de honrar; não se pode perder de vista que Estado não fale, ele arrocha o cidadão, arrocha o sistema produtivo, reescalona a dívida, mas não pode falir.

Mas apesar de tudo, o mundo liberal acredita em liberdade, democracia, direito e milagres, especialmente econômicos, esta aí a “teologia da prosperidade” do Macedo, diga-se de passagem, um exemplo vivo de prosperidade.

Como dizer que estes dogmas são mentirosos sem ser taxado de comunista marxista? Porque essa é a punição dos liberais quando confrontados. Então a vítima é silenciada pelo descrédito de uma ideologia de cujo.

Em 1973, Chico Buarque e Gilberto Gil compuseram uma música intitulada “Cálice”. Uma obra de arte, de genialidade, batendo forte no regime militar, a música ficou cinco anos proibida de ser gravada pela censura militar.

Não posso deixar de reproduzir a letra: No You Tube você pode ouvir a canção.

Refrão:
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue ... (2x)

Estrofes:
Como beber dessa bebida amarga;
Tragar a dor e engolir a labuta?
Mesmo calada a boca resta o peito.
Silêncio na cidade não se escuta.
De que me vale ser filho da santa?!
Melhor seria ser filho da outra;
Outra realidade menos morta;
Tanta mentira, tanta força bruta.

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano.
Quero lançar um grito desumano,
Que é uma maneira de ser escutado.
Esse silêncio todo me atordoa...
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada, prá a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa.

De muito gorda a porca já não anda. (Cálice!)
De muito usada a faca já não corta.
Como é difícil, Pai, abrir a porta... (Cálice!)
Essa palavra presa na garganta...
Esse pileque homérico no mundo.
De que adianta ter boa vontade?
Mesmo calado o peito resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade.

Talvez o mundo não seja pequeno, (Cale-se!)
Nem seja a vida um fato consumado. (Cale-se!)
Quero inventar o meu próprio pecado. (Cale-se!)
Quero morrer do meu próprio veneno. (Pai! Cale-se!)
Quero perder de vez tua cabeça! (Cale-se!)
Minha cabeça perder teu juízo. (Cale-se!)
Quero cheirar fumaça de óleo diesel. (Cale-se!)
Me embriagar até que alguém me esqueça. (Cale-se!)

Saber que 80% da economia mundial está sob o controle de 737 corporações mundiais; “Talvez o mundo não seja pequeno, (Cale-se!)”. Saber que o trabalho é a escravidão corporativa e não um meio de vida; “Como beber dessa bebida amarga; Tragar a dor e engolir a labuta?” As pessoas não tem mais capacidade crítica! Acreditam, acreditam e acreditam; “Esse pileque homérico no mundo. De que adianta ter boa vontade?” Ninguém é responsável por nada, todos se consideram vítimas de deuses ou de demônios; “Quero inventar o meu próprio pecado. Quero morrer do meu próprio veneno”. Eu quero estabelecer o meu significado!

Quem sabe existam pessoas com a coragem de ser? Quem sabe você pode se indignar tanto quanto eu estou indignado? E para os apologistas de direita e esquerda eu canto: “Quero perder de vez tua cabeça! Minha cabeça perder teu juízo”.

Abraços,

Wagner Winter