O tempo é um eterno fugitivo, por isso, a vida deve ser intensa e a intensidade de viver advém de valores benéficos a sua continuidade, pois o dia seguinte está por amadurecer e deverá ser vivido com a mesma intensidade de hoje. Tempus Fugit, Carpe Diem.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

OS SÍMBOLOS INDIGENTES


Hoje eu fui ao Centro da Cidade, mais precisamente à Praça XV, comprar tabacos na Tabacaria Indiana, do meu amigo Isaque. Retornando, passei em frente ao prédio da nossa OAB-RJ, que não deveria ter nenhum tipo de publicidade eleitoral, uma vez que as eleições estão acontecendo nacionalmente. Surpreendentemente, penduraram um banner cobrindo cerca de oito andares do prédio e quase a totalidade de sua fachada, com os seguintes dizeres: “A Ordem quer Progresso, e você?”.

Não sou positivista de qualquer escola, contudo, me vejo na obrigação de expor minha crença quanto a fato incontroversamente estapafúrdio praticado pelo baluarte do Direito Carioca. A parvoíce do marqueteiro só não é menor do que a dos que aprovaram o banner publicitário. Da mesma forma, não resta dúvida que a ética não é o forte dos dirigentes da OAB-RJ, que fazem pendurar exacerbado banner, opondo-se ao movimento “Cidade Limpa” que a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro tenta regulamentar, em plena campanha eleitoral e utilizando um infeliz trocadilho com um símbolo da República do Brasil.

Augusto Comte, no auge de sua curta notoriedade filosófica, afirmou que a primeira república positivista implantada, deveria estampar em sua bandeira a frase “Ordem e Progresso”, simbolizando o método científico como o fundamento de inevitável progresso econômico, tecnológico, social e outros. De certo que gostaria de ver retirada de nossa bandeira qualquer resquício do positivismo, tanto da Escola Francesa, quanto da Escola de Viena e, mesmo, da Escola Alemã, mas isso é uma coisa e outra é sacanear os Símbolos Nacionais.

Comunicamos-nos pela linguagem dos símbolos hodiernamente e a internet é uma fonte inesgotável de criação de símbolos que facilitam a redução das palavras. Mas não podemos esquecer que existem símbolos valorosos, que representam valores inalienáveis, irrevogáveis. Paradoxalmente, alguns desses importantes símbolos se vulgarizaram no tempo, perderam a essência dos valores e apenas adornam os mais diversos interesses e paixões da sociedade, se tornaram indigentes. É lamentável que a OAB-RJ de causa a indigência de um dos mais importantes símbolos de nossa República.

“A Ordem quer Progresso e você?”. “O Progresso quer Ordem e a sociedade?”. “A OAB-RJ precisa de Ordem e Progresso!”.

Wagner Winter; Rio de Janeiro, 21 de novembro de 2012.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

SOBRE A CARTA DA TERRA


Li e reli várias vezes. Não consegui imaginar além do óbvio, do bom senso; nem compreender os valores que tão lindo texto motivaram.

Poder político, poder econômico... Que poderes valem um preço tão alto?

Do egoísmo profundo, a morte, isenta a responsabilidade dos parvos que não entende nem de vida e muito menos de morte e arvoram-se em serem os responsáveis pela estabilidade das sociedades, de patrocinarem as mais relevantes conquistas tecnológicas e pensam que dominaram os segredos da vida. Ah! Se soubessem das fragilidades de Davos diante das intempéries climáticas!

Terra! Planeta único! Morada da vida que se interliga, que interage em fragmentos de energia e felicidade; cenário vivo no qual tudo se mexe, tudo é dinâmico, tudo é colorido, tudo é belo. Aconchego do lar é a casa de nossas vidas, a segurança do nosso ser. Todo o conhecimento humano está ligado a Terra por um indissolúvel cordão umbilical, pois a Terra é o útero de toda á vida, é nela que é gestado todos os saberes, toda a ciência.

Terra mãe, grávida de seres, de vidas, de não vidas, de saberes, de poesias que enternecem o cosmo e ecoam por todo o universo ao encontro da face materna criadora, numa expressão, tão simples, mas tão rica, de comunhão embevecida por tanta beleza, tanta vida.

O universo lamenta e astros se constrangem com o prenúncio da morte do mais belo dos planetas, morte sem causa cósmica, provocada pela valorização de metais, papéis, poderes, autoridades, que sucumbirão antes mesmo que a agonizante Terra se acabe.

Consumidores vorazes de seus próprios dejetos atirados nas bacias fluviais que fornecem a água que bebem e irrigam os vegetais que comem. Parece que nascemos para consumir compulsivamente, de tal forma, que comemos os próprios dedos durante as degustações avassaladoras de simples caviar, que o caiçara paulista, de maneira rotineira mistura com farinha para rechear a tainha que lhe servirá de almoço.

E o nosso sertão nordestino, terra de cabras macho, sobreviventes contumazes, artífices boiadeiros, nos dias atuais utilizam no manejo da boiada a Honda Jegue, poluindo o ar com a queima de gasolina e óleo, desfigurando a cultura popular num pragmatismo espúrio e sem sentido; inócuo, tolo. E os jegues? São vendidos clandestinamente para fabricas de salsichas financiando a manutenção das motocicletas.

Nietzsche escreveu corajosamente sobre a morte de Deus compondo, provavelmente, a mais dura e certeira crítica à religião da forma. O diabo não teve a mesma sorte, morreu sem ser criticado por ninguém de infarto agudo do miocárdio, isso em conseqüência de obesidade mórbida e diabetes. Também, “o bicho ruim” não evoluiu tecnologicamente, não buscou um MBA, não entendia nada de economia e acabou não resistindo ao poderio neoliberal americano, caindo em profunda depressão que o levou a completa inutilidade. O golpe fatal foi a ALCA, “o coisa ruim” não sabia nem para quem torcer e ficou aturdido quando um diplomata americano, ouvindo uma de suas sugestões, perguntou-lhe se ele estava ali para trabalhar ou para fazer caridade. Mas o óbito só aconteceu tempos depois, com a eleição do Bush. O “caramulhão” ia se enforcar, mas não deu tempo, enfartou.

É hora de fazer o caminho de volta, de olhar a Terra como uma dádiva divina para a gestação e manutenção da vida e que não existe nada mais precioso do que a própria vida. De compreender que a felicidade e a essência da vida não estão no consumo, nem no ter, mas na comunhão e no ser.

Diz-nos o poeta e músico Marcus Viana:
“O Arquétipo do Sagrado Coração assim se manifestou e viemos a entender a coroa de espinhos como o próprio processo dual da natureza. Numa visão primitiva seria o Bem e o Mal, Deus e o Diabo, o Ódio e o Amor, a Ignorância e o Conhecimento. Porém ao mergulhar mais fundo, além do apego às formas racionais, vimos o Tudo e o Nada; a Eletricidade e o Magnetismo, o Positivo e o Negativo, o Yang e o Ying, a Noite e o Dia, o Homem e a Mulher, o Pai, a Mãe. E no centro, o fruto do Amor das duas forças entrelaçadas do universo: o filho, a força neutra, a criação. O Coração”.

E completa com esta belíssima canção:

Quando os corações dos puros amam
Cala a imensidão, o espaço
E a eternidade ergue seu véu

Todas as coisas vivas se aquecem
Todos os olhos se iluminam
Com a luz de um outro céu

Corações selvagens
Quando batem de paixão
Acordam toda natureza
Fazem a vida renascer

Florestas que queimaram
Voltam a se vestir de verde e flor
E as fontes que secaram
Ressuscitam ribeirões

Corações selvagens
Quando ardem em paixão
Incendeiam a noite, o tempo
E cegam sóis

Estrelas são as lágrimas dos anjos
A chorar
Por não terem o corpo e a vida
E não saberem o que é amar

Amor Selvagem - Marcus Viana

Jesus Cristo nos deixou uma única receita de vida: “Ame a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo” e Nietzsche completa: “Amai os distantes”. Amar-nos não é uma parvoíce romântica, ingênua, antes, é ter a mais profunda convicção do que somos e dos valores maiores da vida; do útero da mãe Terra, que nos acolheu com ternura divina em nossa gestação e nos acolherá, com a mesma ternura divina no momento de nossa última possibilidade de ser-humano.

Amor, fraternidade, cuidado, comunhão com Deus. São os elementos da nossa esperança transcritos na Carta da Terra, ou melhor, na carta para a Terra.

Wagner Winter, 24/11/2007