Lembro que os grandes pensadores gregos estudavam e
ensinavam caminhando. O tema é muito relevante e requer um pensar profundo
sobre o ambiente escolar. Ao meu sentir, as salas de aulas se equiparam a celas
coletivas do sistema prisional, é uma espécie de confinamento de alunos e
professores e, principalmente, da razão.
O conceito (ou objetivo) da educação é fundamental na
definição de conteúdo, ambiente, método e comunicação (que pode ser entendido
como ferramenta ou meio). A priori, rejeito as teorias de transmissão de
conhecimentos, ou de formação de conhecimento. Por óbvio que o educar perpassa
pela transmissão e pela formação de saberes, contudo, acredito na transformação
evolutiva dos saberes curriculares, no desenvolvimento da consciência crítica.
Desta forma, a sala do cinema, do teatro, ou qualquer outra,
pode ser uma jaula terrível, se o espectador estiver assistindo a qualquer
coisa apenas pelo senso comum. Tal fato, também acontece na sala de aula e
existem alunos que se perdem fora do ambiente tradicional (quem vive pelo senso
comum se perde em ambientes incomuns).
Sem dúvida que é preciso repensar os objetivos (ou
conceitos) da educação. Onde se pretende chegar? Pretendemos uma formação para
utilização nos mercados de trabalho ou uma formação transformadora dos mercados
de trabalho? Não podemos esquecer que o senso crítico incomoda; que as
transformações representam novidades e, estas, inseguranças e dúvidas.
É inegável o abismo entre a teoria e a prática. No Brasil a
educação é possível sob todos os pontos fundamentais e acessórios, ou seja,
temos tecnologia para preparar educadores e para educar; temos recursos
públicos e privados; possuímos a expertise para a educação presencial e não
presencial, bem como os elementos logísticos para tal. Por que não educar?
Sabemos que não existe país desenvolvido sem alto nível
educacional da população e queremos ser desenvolvimentistas semeando a
ignorância na razão dos indivíduos. No Brasil, até as grandes mídias fomentam a
ignorância. Podemos destacar poucas entidades educacionais cujo objetivo
principal seja educar. Em geral, tais entidades de excelência educacional são
Universidades, terceiro nível do processo educacional. Mínimas são as
instituições de ensino fundamental e médio, chegam a ser exceção.
Mesmo existindo a consciência da necessidade de educar
verdadeiramente, os brasileiros assistem a educação privada ser considerada
como negócio pecuniário de um grande mercado e a educação pública como grande
negócio político, também com grandes somas pecuniárias envolvidas.
Quem muda essa realidade? É necessário saber-se doente para
que se tome medidas e remédios. Vivemos em uma sociedade doente de ignorância
crônica. Não possuímos motivações para a difusão de saberes, muito menos para a
retenção de conhecimentos. Não nos reconhecemos doentes e lançamos sobre
terceiros os motivos para o colapso educacional. É o empresário cruel,
avarento, ou o governo corrupto; sempre existe um culpado, menos a nossa
doença.
Ensinar
a sociedade a pensar criticamente é a única medicação para a educação
verdadeira, é remédio eficaz, que quebra o encantamento da ignorância, os
ideais da parvoíce e revela a “nudez do rei”; contesta o dogmatismo
escolástico, retira a esperança do além túmulo e a traz para o mundo dos vivos.
Cria cidadãos de direitos, mas, também, com deveres e responsabilidades; não
existe cidadania negligente. A cidadania não é concedida, é conquistada
individualmente e se torna coletiva pela soma de pessoas pensantes
criticamente.