Escrevi os dois artigos anteriores que, a priori, não analisam profundamente nenhum mercado, também não
sugerem auto-ajuda, muito menos, parecem tratar de questões relevantes à
economia globalizada.
Não pretendo, no dizer Kantiano, transformar os
conhecimentos a priori, esboçados nos
dois textos citados, em um conhecimento plenamente analítico. Várias são as
razões; tempo, tamanho do texto e geração de divergências inúteis à idéia de
criar o interesse e desafiar o cérebro dos leitores a um pensar com maior
profundidade.
Ética é algo exclusivo dos seres humanos. Ainda não é uma
moral, mais um conjunto de valores que o processo cognitivo transforma em
moral, ou princípios de conduta, que é um conceito bem mais amplo e menos
dogmático. Por óbvio, que as religiões estão enraizadas nesse conjunto de
valores éticos e influenciam diretamente o processo cognitivo de qualquer ser
humano. Nesse diapasão, podemos de plano, concluir que empresas, por serem
pessoas jurídicas ou uma ficção jurídica, não podem possuir valores exclusivos
da pessoa humana. Empresas jamais poderão ter éticas ou deixar de ter. Contudo,
não se pode falar o mesmo da moral empresarial. A moral está presente por
influências externas de cunho social-cultural, religioso e legal. A moralidade
das pessoas jurídicas está expressa em seus contratos sociais e são reguladas
pelas leis que regem as atividades empresariais, dessa forma, podemos concluir
que entes empresariais têm uma moral definida pelos vários legisladores e
regulamentada pelos Poderes Públicos competentes.
Desde logo, podemos intuir que as moralidades empresariais são
por demais frágeis para resistir aos princípios de conduta fundantes que as
regulam. Os próprios processos éticos dos agentes empresariais, dos sócios ou
dos acionistas, levando em conta as definições de ética tratadas no primeiro
texto, podem opor-se a moralidade empresarial. Nesse contexto, a moralidade
religiosa tem papel preponderante de controle social, pois as sanções são por
demais pesadas e se resumem na exclusão ou condenação moral dos grupos sociais,
incluindo as diversas sociedades empresariais, e a maldição dos deuses. Para
algumas religiões tal maldição seria a vida ou a morte no inferno.
A conhecida concentração global de corporações não acontece
pela competência empresarial natural ou pela excelência tecnológica de
determinada empresa, mas de sua capacidade estratégico-econômica de esmagar
concorrentes à exaustão, até que seja aceita a oferta de venda ou aconteça a
morte do mesmo. É interessante observar que no liberalismo econômico,
pressupondo que seja em um Estado Democrático de Direito, isso acontece em
razão do BOM, ética do movimento
sazonal. No neo-socialismo, pressupondo, igualmente, um Estado Democrático de Direito,
o fenômeno acontece na iniciativa privada e no Estado que tenta disputar o
poder econômico com os mercados. Os movimentos estatais e privados se definem
pela sazonalidade das circunstâncias econômicas e políticas. Nos Estados
totalitários a existência de empresas privadas possui uma precariedade tão
grande que inexiste uma moral que não seja definida e imposta pelo governo.
Tanto nos Estados comunistas, como nos Estados teocêntricos, prevalece a
vontade do governo, que é sazonal, não só por fatores econômicos, mas também,
pela sustentabilidade do governo ou do regime totalitário.
Se bem observarmos, a humanidade é moldada e contida pela
moralidade dos mercados ou dos estados, tornam-se rebanhos domesticados que não
escolhem nem o pasto para se alimentar ou o tempo de permanecer no campo e,
tudo isso, validado pelas religiões que são poderosos instrumentos de controle
social, pois pregam a submissão existencial e criam esperanças no porvir. No
marxismo a religião permanece existindo, independente do ateísmo estatal, mas
para muitos a religião é substituída pela submissão militar e pela doutrinação
permanente do governo.
As razões para o aprisionamento da essência existencial
humana são várias, porém, destacamos os processos educativos que deformam a
capacidade cognitiva humana, gerando uma moral consumista e incapaz de viver
fora dos limites dos mercados e das religiões, que, como já falamos, consolam a
vida dos engaiolados e projetam esperanças de liberdade e felicidade no porvir.
Dentro desse cenário, a felicidade é fundada no bom, que pode ser traduzido
pelo ter. As lutas pelo dia-a-dia se tornam batalhas medievais, onde vencer é o
objetivo para deixar as corporações ou os estados com maior número de gaiolas e
de seres engaiolados. Quem tentar quebrar as morais existentes, de certo será destruído
ou banido dos mundos corporativos ou estatais.
No caso, os reais valores existenciais não são desprezados, mas
destorcidos para motivarem toda sorte de sacrifícios que justifiquem o
aprisionamento aos sistemas econômicos, sejam privados ou estatais. Por
exemplo, a ausência do convívio familiar e a consequência falta de afeto, para
oferecer a oportunidade aos filhos de estudares nos melhores colégios e
faculdades do mundo e oferecer à família sete a quinze dias de férias nos mais
caros lugares do planeta.
A felicidade é fugaz e a liberdade utopia.
Deixo uma pergunta: Por que as pessoas não se libertam e realizam
o que realmente gostam, buscando a felicidade em tudo que fazem e em tudo que
são?
Quando era um jovem em idade de trabalho, empreendedor de
certo, pensava em ganhar muito dinheiro e parar de trabalhar aos quarenta anos.
Descobri minha vocação quando me recusei a ser engaiolado por mercados e
religiões, percebi, também, que o universo acadêmico transforma os
conhecimentos em commodities, me obrigando a desenvolver o senso crítico e ter
princípios hermenêuticos confiáveis. Hoje, a aposentadoria não está nos meus
planos. Estou sempre disponível para a vida e para tudo o que me faz feliz.
Ensejando uma vida feliz a todos os meus amigos.
Abraços,
Wagner
Winter.
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